Por: Soraia Guimarães

O cenário mundial mostra um aumento crescente da população da terceira idade e sua atual posição em relação à qualidade de vida, ao isolamento social, a acessibilidade e certo descaso vivido. E nós arquitetos, precisamos estar sintonizados com as mudanças, valorizando a evolução natural da vida, para esta importante camada da nossa sociedade, onde se abre um nicho profissional de demanda crescente.

O surgimento de comunidades e condomínios específicos para esta população está aos poucos se tornando uma realidade; mas existe a necessidade de uma contribuição imediata no ambiente onde vivem. E ao pensar numa arquitetura para pessoas maduras, antes de tudo, precisamos ter em mente a importância deste espaço ser saudável e estimular o pertencimento, pois somente no contexto da saúde e do bem estar podemos pensar a longevidade, que está intimamente ligada à qualidade de vida do indivíduo, que assim como a natureza, passa por ciclos e estações, que precisam ser olhadas e respeitadas.

Uma edificação que “converse” com o mundo natural e nos reconecte a ele, direta e indiretamente e ainda valorize o lugar e a cultura onde está inserido o idoso, com suas referências afetivas e de valor pessoal, é o modelo necessário para esta realização, garantindo autonomia, habitabilidade, salubridade, segurança e especialmente acessibilidade. Isso traz identidade, confiança e um sentimento de pertencimento ao local.

Destaco algumas estratégias fundamentais:

– Iluminação e ventilação naturais de qualidade, com aberturas para interação com o exterior, permitindo a percepção do clima e visualização do mundo natural;

– caminhos claros e bem sinalizados entre os espaços;

– uso de guarda-corpos e/ou barras de apoio nos locais de circulação;

– pisos antiderrapantes uniformes, evitando juntas; e com a utilização de rampas nos desníveis;

– portas e vãos de acesso mais largos;

– preferir iluminação artificial amarelada e indireta;

– optar por formas orgânicas e sinuosas, evitando quinas;

– banheiros sem desníveis de nenhuma natureza e com barras de apoio;

– áreas molhadas com ralos e/ou drenos evitando empoçamentos;

– amplas áreas de convivência, de atividade física e de lazer;

– permitir objetos que mostrem a passagem do tempo e seu envelhecimento natural;

– variedade de plantas no interior e espaços ajardinados ao ar livre;

– uso de arte e materiais naturais, como cerâmica, fibras, tecidos e madeira, promovendo uma ambiência mais serena e acolhedora;

– privilegiar as cores e texturas mais presentes na natureza: azuis, verdes e tons terrosos;

– promover conexões culturais com a região e sua população;

– evitar materiais e produtos de limpeza tóxicos.

Existem características em nossa casa que contribuem mais para a nossa saúde física, mental e emocional do que outras. Um recente estudo realizado na Itália, traçando a relação entre o ambiente construído e a saúde, conta como as casas influenciaram a vida das pessoas durante a pandemia de COVID-19 (Politécnica de Milão e da Universidade de Gênova, 28/05/2020). Os dados desta pesquisa demonstram como nossas moradias podem afetar significativamente nossa saúde, e ainda mais se levado em conta o seguimento de pessoas que já podem estar com ela mais fragilizada pelo tempo. Mostram também que habitações com boa iluminação natural, conforto acústico, de temperatura e umidade do ar, salas com obras de arte ou elementos verdes que garantam privacidade, presença de varandas, terraços e jardins, vista de qualidade para o exterior e área superior a 60m², reduzem muito a possibilidade de doenças.

Sendo assim, ambientes de natureza, amplas aberturas para o exterior, iluminação e ventilação naturais purificando o ar interno, espaços de convivência, se possível conectados à praças, bibliotecas, cooperativas, espaços de arte, creches e todo tipo de atividade que estimule maior interação social, serão muito bem vindos para tornar as habitações, locais de promoção da saúde e qualidade de vida.

Todos temos direito à acessibilidade, liberdade de movimentos, sociabilidade e condições de bem-estar físico e saúde mental.

E a arquitetura pode trazer todo esse conforto com segurança e qualidade de vida às pessoas maduras através do seu espaço construído.

Confie sua casa a um profissional que prioriza sua saúde, equilíbrio e bem estar.

ARQUITETURA PARA A LONGEVIDADE

Por: SORAIA GUIMARÃES

Arquiteta e Urbanista

Consultora de Ambientes

Obs.: Artigo cedido pelo autor, para publicação no Instituto Amadurecer.