Por: Cida Alves

No ano de 1977, “nosso Nostradamus”, Raul Seixas, prevendo que um dia a terra iria parar, escreveu :

“….Essa noite eu tive um sonho, de sonhador, Maluco que sou, eu sonhei… Com o dia em que a Terra parou (ôô), com o dia em que a terra parou (ôô)…foi assim: No dia em que todas as pessoas do planeta inteiro, resolveram que ninguém ia sair de casa, como que se fosse combinado em todo o planeta, naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém ….”

Pois é seu Raul, aconteceu!!! O surto de corona vírus parou a terra. E, ele tem afetado fortemente as populações e a economia global. Mas, e o que isso tem a ver com Comércio Exterior?

Tenho ouvido e lido muitos comentários nas redes sociais, do tipo, vamos valorizar a indústria nacional, para que importar?, podemos produzir tudo aqui….. etc…. Esse seria o melhor dos mundos, concordam? Mas, sem querer puxar a brasa para a minha sardinha, lhes digo que a realidade é bem diferente, e vou tentar, em breves palavras explicar o porquê.

Podemos tomar como exemplo, o Trigo utilizado para fazer o pãozinho nosso de cada dia. Durante quase doze anos, dirigi uma empresa que liberava em média, um navio graneleiro de trigo por semana, trigo esse destinado a alguns moinhos locais. De acordo com o estudo “A Trajetória do Trigo no Brasil e o seu Papel nas Relações Comerciais e Institucionais entre Brasil e Argentina” (CONAB-02/2019), 70% do trigo importado pelo Brasil é Argentino.

“O documento registra que o Brasil consome, por ano, cerca de 11 milhões de toneladas de trigo, sendo que a produção brasileira está estimada em 5,4 milhões de toneladas para a safra 2018/2019.”

Ou seja, fazendo uma conta de “padaria”, a produção seria insuficiente para o consumo interno. Canadá e EUA também exportam trigo para o Brasil. Evidentemente que a opção de importar do país Hermano, ocorre devido à preferência tarifária em virtude do acordo MERCOSUL (mas isso é assunto para outro artigo).

O exemplo do trigo é bem didático, mas somos “dependentes” da importação de outros produtos, principalmente dos Chineses, estou digitando esse artigo em um notebook, vendido por uma loja brasileira, com uma marca Norte Americana e que é formado por partes fabricadas em diversos países asiáticos.

A China, é o nosso principal parceiro comercial. Em 2019, 19,9% de nossas importações vieram de lá. É grande a variedade de produtos Chineses importados pelo Brasil: produtos manufaturados, plataformas de perfuração, circuitos impressos, Partes de aparelhos transmissores ou receptores entre outros….

A China também é o principal destino das Exportações Brasileiras. Em 2019 ela ficou em 1º Lugar no Ranking das nossas Exportações, principalmente na importação de nossa Soja. Nesse ano, a Balança comercial Brasil/China gerou um superávit no valor de US$ 27.601,25 Milhões.

Essa pandemia, já afetou diretamente cadeias globais de suprimentos, interrompeu rotinas e atividades diversas, abalou as bolsas e já está interrompendo a produção de alguns setores. Está ocorrendo uma redução drástica na carga de importação vinda da China. Hoje, estive conversando com com uma profissional do setor de Logística Internacional, e a mesma me confirmou que os armadores já estão se organizando para um ajuste desses embarques nas próximas três semanas, um “Blank Sailing” de menos 45% nos embarques de importação oriundos daquele país. Por conta disso, está ocorrendo um desabastecimento de CTNR vazios destinados à exportação.

Em contra partida, o governo Federal, desde o mês de março, vem tomando algumas ações para facilitar a importação dos itens necessários para o enfrentamento dessa pandemia.

Concluímos que o impacto do COVID-19 sobre todos os setores é inevitável. Mas, qual será o tamanho desse impacto? quanto tempo ele vai durar? Infelizmente, ainda não temos essas respostas. O mundo já passou por crises de saúde semelhantes — como as da Gripe Espanhola, Ebola, Mers e Sars — e essas crises demonstraram que surtos podem desencadear efeitos colaterais importantes e de longo alcance que talvez exijam anos de recuperação. Nesse momento o que podemos fazer é colaborar com as medidas que forem adotadas para que possamos conter o crescimento da pandemia, esperar de forma otimista que a cura seja descoberta, que muito em breve o comércio internacional se recupere e junto com ele a economia e saúde do mundo.

Fontes: normas.receita.fazenda.gov.br / www.mdic.gov.br /www.conab.gov.br

Cida Alves é especialista em Comércio Exterior e Fundadora da Cosmo Consultoria e Treinamentos Ltda – Professora de Comex – Especialista em Logísitica – Mestre em Educação

Obs.: Artigo cedido pelo autor, para publicação no Instituto Amadurecer.